sexta-feira, 16 de julho de 2010

Testamento...

Quando eu morrer, de preferencia numa noite fria e sem lua, leve-me para tomar o ultimo dos mundanos porres. Para que ninha alma ou o que restar dele vá embora marginalizada por aqueles que não bebem, e o meu corpo elegante, vestido com trages de gala roubados da burguesia, exalando o perfume do álcool seja cremada com mais velocidade.
Na noite em que eu morrer mostre-me os lugares que sempre temi: o fim, o inferno do mundo, o fundo do mar, mas também traga-me a festa e os loucos do manicomio, os convidados e os penetras. Convenhamos que festa sem loucos e penetras não há graça nenhuma.
Preparem os poemas, as performaces, as velas e músicas como numa festa tavernista dionisíaca, preparem-me um banho quente e não se esqueçam da fogueira, a fogueira em que meu corpo travestido de burgués jazirá sorridente dizendo Adeus para as mulheres que nunca tive, e para aquelas que tive, mas que nunca foram minhas.
Doem meus poemas de amor para as moças que sofrem por nunca terem sido amadas, os poemas que restarem colem nos postes, no asfalto quente, nos portões pela cidade. Ai talvez as pessoas tomem conhecimento das besteiras que escrevia.
Presenteie a mendiga Neuza com meus ôculos, meu chapéu e o que sobrar de minhas roupas e bebidas.
Os livros e discos... Deixem no mesmo lugar, pois quem sabe eu volte para folear um romance e escutar uma canção antiga.
Por favor... Imploro... Varejem o meu aparelho celular bem longe. Demorei tanto pra comprá-lo e quando comprei compreendi porque demorei tanto para comprá-lo.

Doem os meus orgãos para que eu vire distintas vidas pelo mundo. Guarde apenas o meu crânio para que finalmente eu possa atuar em Hamlet. E o resto cremem sem dor e piedade na fogueira. Minha fumaça vire nuvens e eu possa andar por ai sem pecado, sem ter que pagar passagem, tarifas e hospedagem.
Metade de minhas cinzas joguem no mar, para que eu sirva de alimento aos peixes e vire lendas contadas por velhos pescadores enrugados, e o que sobrar delas, misturem na sopa de meus inimigos para que eles me carreguem pelo resto de suas vidas sentindo as narinas entupidas pelo meu corpo reduzido a pó.
Na noite em que eu morrer festejem comigo o meu fim...

2 comentários:

  1. Adorei esse texto.
    É impossivel não se identificar com o ele.
    Gostei de todos na verdade, mas esse é o melhor.
    Obs.: Plágios da vida de Juliana --> Posso colocar esse texto no meu testamento? (Brincando)

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  2. Vou guardar esse texto. Se vc morrer primeiro(rsrs) junto uma galera e faremos tudo isso com vc :D rsrsrs.
    Arrasando com o blog :)

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