quinta-feira, 15 de julho de 2010

Jardim {Encarcerado}

O vento corre no asfalto invadindo o quintal e levando como um salto circense as folhas, de mangueira, secas caídas no chão. A melodia melancólica que o vento assobia transparece o real desenho das tardes do outono.
As lembranças até então caladas nesse jardim encarcerado chamado: passado, mas um jardim bem cuidado e revivido em muitos certos pontos da vida.

O céu cinza, as avenidas molhadas pelo sereno escorrendo dos olhos do azul encoberto pelas nuvens carregadas. Os pássaros se recolhem e aproveitam o tempo frio para namorar e cantar baixinho um para o outro. As rosas ainda enrodilhadas lamentam a profunda ausência do beija flor.
Nesse jardim encontra-se as lembranças boas e ruins levadas por essa existência. Momentos, ficção e rascunhos de vidas vividas. Não se assuste com o abandono bem cuidado desse parque acabado pelo tempo que é minha mente inundada de lembranças de um poeta atormentado pelo amor ao próximo.
Não se assuste com as folhas secas, caídas e abandonadas pela árvore. Não tenha pena dessa árvore, pois ela é o real significado de nossa memória falha e cega, drogada por calmantes no intuito de esquecer. Ai então as memórias vão caindo, mortas e secas como as folhas no outono. O cheiro do café mistura-se com o perfume vindo não sei de onde, um perfume doce que lembra saudade. Está ai. O real desenho das tarde de outono.
A saudade e a lembrança... A lembrança é triste só pelo fato de ser lembrança, passado e não o aqui agora, presente. O presente do outono e calmo e pesado, tão calmo e pesado que preferirmos as lembranças. Lembranças daquele verão, da primavera, do inverno a dois. O outono está condenado por sua fisionomia triste a ser a estação da solidão encontrada da melodia das canções melancólicas.

Aqui a vida não é jogada fora, não é desperdiçadas. As lembranças, não são apenas lembranças e sim canções que se repetem. Não tentamos entender nada, nem ao menos o que se passa aqui, embora as pessoas tentem apagar...
Temos os vestígios do passado, vivemos o presente e tentamos nos preparar para um suposto futuro desejado. Seja o que Deus quiser... Ou melhor, o que nós preferirmos.
E lembrem-se. Se houver alguma afinidade emocional ou racional com os fatos aqui apresentados, é mera coincidência ou fruto de sua lembrança imaginaria viva.

Um comentário:

  1. O poeta é um catador,
    que colhe do jardim da memória,
    as folhas mortas de um outono de outrora
    para compor nova primavera.
    E, ao cair do crepúsculo,
    ele, fatigado da vida, tem fome de chão,
    como a folha que tem saudades da terra.

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